Vertentes, quinta feira, 6:00 horas, 18 de fevereiro de 1960.
Acordo ouvindo um choro agoniado e baixo de minha mãe, perto da minha cama, debruçada à janela do sobrado da casa onde morávamos. Estava sendo informada, pelo meu tio Wilson, que se encontrava na rua de traz, sobre oacidente automobilístico ocorrido no dia anterior, que vitimara o meu pai, ceifando-lhe a vida de forma trágica e precoce, às vésperas de completar trinta e cinco anos. Naquele momento senti uma grande sensação de perda.
Sensação essa, que me acompanha até hoje. Havia perdido, de uma só vez: meu pai, meu maior amigo, meu ídolo. Aos meus olhos de criança, ele era um verdadeiro gigante. Lembro-me de um acidente doméstico que sofri, aos sete anos, dentro de um tanque de água, que abastecia nossa casa, quando me preparava para lavá-lo, escorreguei e cai, batendo com a cabeça naquele chão molhado e encoberto de lodo, causando-me um ferimento preocupante. Não sei com que rapidez o meu herói, que estava cortando o cabelo na barbearia dovelho Amaro Ferreira, surgiu como um super-homem, toma-me em seus braços fortes e, em companhia da minha mãe, leva-me “voando” em sua camioneta Ford
– F-1, modelo 1951, para o atendimento médico no hospital da cidade deSurubim.
Ao trocarmos alguns olhares, durante o trajeto entre Vertentes e Surubim, coberto em quinze minutos, percebi o quanto eu era amado, e como aquele homem era importante na minha vida.
Apóio-me em Joaquim Nabuco para definir a influência que meu pai, Gil Rodrigues dos Santos, teve sobre minha formação: “quaisquer que fossem as influências de país, sociedade, arte, autores, exercidas sobre mim, eu fui sempre interiormente trabalhado por outra ação mais poderosa, que apesar, em certo sentido, de estranha, parecia operar sobre mim de dentro, do fundo hereditário e por meio dos melhores impulsos do coração. Essa influência,sempre presente por mais longe que eu me achasse dela, domina e modificatodas as outras que, invariavelmente, lhe ficam subordinadas. É aqui o momento de falar dela, porque não foi uma influência propriamente da infância, nem do primeiro verdor da mocidade, mas do crescimento e amadurecimento do espírito, e destinada a aumentar cada vez mais com o tempo, e atingiu todo o seu desenvolvimento quando póstuma”. Ele achava que o homem não foi feito para a derrota. Ele podia ser vencido, mas não destruído.
Nasceu, em Vertentes, a 22 de fevereiro de 1925, filho de Francisco Zacharias Rodrigues dos Santos e Amélia Ferreira Rodrigues dos Santos, tendo como irmãos: José, Lauro, Maria José, Hilda, Francisco, Wilson, Rubem, Maria Erotildes e Terezinha (sobrinha – irmã). Casou-se com a professora Neusa Spinillo Rodrigues, tendo nascido dessa união quatro filhos: Vasco, Vera, Vanda e Varo.
Iniciou seus estudos no curso primário, aos seis anos de idade, concluindo-o, para em 1937 submeter-se ao antigo curso de issão ao ginásio, uma espécie de vestibular a que era submetido o aluno concluinte do curso primário para ter o ao curso secundário, no Ginásio de Limoeiro.
Foi aluno dedicado e aplicado, tendo logo, a partir do 2.º ano de ginásio ocupado os primeiros lugares de sua turma. Preocupação que o acompanhou até a Escola Superior de Agronomia de Pernambuco, onde fora graduado nas ciências agronômicas, em 1949, não por pura vaidade, mas como conseqüênciada sua luta sem trégua em busca do conhecimento e do saber.
Colecionava amizades no seu ambiente, quer na escola, quer no contato direto com seus familiares e amigos. Como era seu intuito, ainda jovem e entusiasta fora chamado para servir sua terra natal, ficando à frente do Posto do Fomento Federal, como primeiro o de todo profissional que sonha em ser útil, àqueles que o encorajarame o estimularam.
Era um homem irrequieto, embora vendo seu sonho consumado, itia que não havia limite para a ação daqueles que não acreditam na luta sem horizontes de glórias. Deixa o Fomento Federal, sendo nomeado para a Secretaria da Agricultura de Pernambuco, sagrando-se o pioneiro na implantação das famosas “rodas d’água” – equipamento arquitetônico e inovador daquele sistema de irrigação do Rio São Francisco, na cidade ribeirinha de Cabrobó, em 1952.
Seu feito leva-lhe ao Estado de São Paulo, em busca de especialização em irrigação e defesa do solo, concluindo sua pós-graduação na Escola deAgronomia de Piracicaba, objetivando uma melhor utilização daquelas paragens enriquecidas pelas águas do vale do “velho Chico”.
Regressando ao seu Estado de Pernambuco, após se consagrar de forma brilhante em seu curso de especialização, reassume suas funções em Cabrobó, no ano de 1955, para logo iniciar a montagem e instalação de um engenho decana de açúcar, na ilha da Assunção, onde se produzia mel de engenho e rapadura.
Após concluir os trabalhos de implantação do engenho experimental e ter participado do projeto inicial do plantio da cebola, que fizera com que aquela cidade e a erva bulbosa ficassem famosas, volta à sua terrinha, aos pés da Taquara, para assumir a chefia do 21ª Setor Conservacionista do Departamento de Defesa do Solo da Secretaria da Agricultura do Estado de Pernambuco. Inicia a construção da 21ª Residência Agronômica, que em nada deixa a merecer como obra de engenharia moderna, e por questões alheias àsua vontade, não a viu concluída. É convocado para dirigir a Diretoria de Produção Vegetal, em seguida a Diretoria de Proteção ao Solo, e afinal assume a Direção do Departamento de Açudagem, órgão em que se desdobra na ação de retribuir a confiança que lhe fora depositada, construindo do agreste ao sertão, grande número de açudes, cuja feitura obedecia a sua orientação e assistência técnica.
Paralelamente a toda essa maratona de compromissos, ainda se preocupava com a juventude estudiosa de sua terra, que tinha que se deslocar para estudar em outras cidades, criando-se uma grande dificuldade para as pessoas carentes e sacrificadas, em sua maioria. Juntamente com outros abnegados conterrâneos e amigos, como Jaime Justiniano Santana e José Oscar deAndrade, não medira esforços para, unidos, fundarem o famoso Ginásio CNEG -Maciel Pinheiro, onde era professor de Matemática e Desenho. Pactuava do pensamento do filósofo Jaques Marriten “A finalidade essencial do ser humano consiste na dignidade e nas realizações do conhecimento e da inteligência”.No auge das suas realizações profissionais e pessoais, parte inesperadamentedesta vida.
Diz o brocado chinês: Cada pessoa nessa vida ao ar deixa algo de si. Uma simples árvore que se planta. Quem não o fez até agora, jamais o fará.Gil Rodrigues deixou sua árvore plantada.
Maceió, 17 de setembro de 2006.
Vasco Rodrigues dos Santos
Para ver mais imagens navegue pelos arquivos do Blog.
Muito interessante saber um pouco da historia do Dr.Gil Rodrigues, cujo nome me traz sempre boas recordaçoes até por que estudei a vida inteira lá.E o pouco que ouvi falar dele foi por intermédio da minha avó, que aliás sempre se referia ao mesmo de modo muito carinhoso e respeitoso.”__Sempre nos tratava como gente!Era homem rico e importante, mas só percebiamos isso pelo seus ‘trajes sempre finos'(minha vó era costureira) mas nunca nos tratava de modo que ficássemos constrangidos em sua presença”!
Estudei da 1ºserie ate o 3º colegial, na Escola que leva seu nome e nunca nen ao menos ouvi alguem mencionar algo da vida desse homem, o que e uma pena.Nao acham!
Quem sabe assim poderiamos repensar nossos atos e agirmos com um pouco mais de humildade !
Leonardo Mendonca de Oliveira.
SAO PAULO, CAPITAL EM 26/09/2007
[email protected]
By: Anonymous on setembro 26, 2007
at 6:30 pm
Muito boa a colocação sobre um pouco da vida do Dr. Gil Rodrigues. Estudei pouco tempo lá, mas trago boas recordações.
By: Silvio /Recife on janeiro 5, 2008
at 3:45 pm
Não conheci Gil Rodrigues,quando o mesmo faleceu eu era muito pequena,mas me criei ouvindo sempre a minha mãe e minhas tias ,primas dele,lamentando sua morte e a imagem que criei desse homem foi de uma pessoa que se preocupava com a educação em sua terra,sempre soube que,ao sofrer o acidente Gil Rodrigues estava vindo do sertão,onde trabalhava para dar aula na Escola Cenecista,como professor voluntário,que era daquela Escola só pela vontade de ver acontecer a educação em Vertentes.Conheci sua esposa,dona Neusa,que tambem partiu cedo do nosso convívioe os seus filhos.Ainda lembro de seu Chiquinho Eloi e de tia Amélia,pais de Gil Rodrigues.
By: Socorro on março 7, 2008
at 8:14 pm
Quando criança,morava em frente da casa de Dr.Gil , não lembro dele mais convivi com seus filhos que min tratavam carinhosamente,pois meus pais Ivo Siqueira de Miranda e Laurinete Alexandre Medeiros de Miranda( inesquesível TECHINHA ) eram muito proxímos da família,sinto muita saudades de todos eles.Estudei o meu primário na escola GIL RODRIGUES ,tenho muito orgulho de ser VERTENTENSE e saber de todas essas histórias,pois participei de coisas maravilhosas da minha terra querida que cada vez mais esta crescendo.
By: Luciene Alexandre Siqueira Nóbrega on outubro 2, 2008
at 6:55 pm
Quando criança,morava em frente da casa de Dr.Gil, não lembro dele mais convivi com mãe e filhos que mim tratavam carinhosamente,pois meus pais Ivo Siqueira de Miranda e Laurinete Alexandre Medeiros de Miranda(inesquesível TECHINHA) eram muito proxímos da família,sinto muita saudades de todos eles.Estudei o meu primário na escola GIL RODRIGUES ,tenho muito orgulho de ser VERTENTENSE e saber de todas essas histórias,pois participei de coisas maravilhosas da minha terra querida que cada vez mais esta crescendo.Tenho muitas fotos de vários desfiles civícos,também estudei na escola cenecista JOSÉ OSCAR DE ANDRADE.Hoje moro em BRASÍLIA e fiquei maravilhada com minha terra.
By: Luciene Alexandre Siqueira Nóbrega on outubro 2, 2008
at 7:20 pm
Eu estudei grande parte de minha vida na escola que leva o nome de Gil Rodrigues, porém não sabia da história deste homem tão importante para Vertentes. Párabens por ter tido um pai que influenciou tão bem a sua vida mesmo partindo cedo.
By: Emmanuelle on janeiro 5, 2009
at 12:58 am
gostaria saber se alguem pode ver para mim ,o meu historico escolar na escola gil rodrigues em nome de ELISALDO JOSE REMIGIO GOSTARIA DE RECEBER NOTICIA PELO EMAIL [email protected] muito obrigado a quem atender esta solicitação
By: ELISALDO JOSE REMIGIO on maio 11, 2010
at 12:23 am
COMO É BOM VER TUDO ISSO HJ;SOU A FIHA CAÇULA;MUITO ME ORGULHA DESSE HEROI, NUMA ÉPOCA TÃO DISTANTE DE TUDO,SEM NEMHUMA TECNOLOGIA….DEUS THA QUE ESTA PRESISANDO MUITO DESSE ABENÇOADO ;POIS FOI AREBATADO TÃO PRECOCIMENTE….MELHOR PENSAR ASSIM PARA Ñ MURMURAR TANTO….COMO FEZ MUITA FALTA….COMO SOFREMOS…LOUVADO SEJA DEUS POR TUDO.
By: VANDA RODRIGUES DOS SANTOS on outubro 13, 2011
at 2:55 pm
agradeço a toda essa gente que se solidarizou com nossa perda que em parte foi absorvida por muitos, fiquem certos da sua alegria de ver triunfar sua querida VERTENTES.
By: Varo Rodrigues dos Santos on janeiro 11, 2012
at 1:56 pm
Morava em um sítio por nome sítio sdantana, município de Frei Miguelinho, onde estudei atá o terceiro ano do ensino fundamental, quando fui aconselhado pela profº Maria da Glória Farias, a estudar em Vertentes. Foi aí, que minha mãe me matriculou na Escola Gil Rodrigues, onde fiquei até o terceiro ano do ensino médio. Quando comecei estudar nessa Escola a Diretora era D. Alice Santos, hoje sde encontra sob a Direção de uma grande mulher … a Potentíssima Salomé… tenho saudades dessa gente tão amável… Domingos Sávio dos Santos
By: Domingos Sávio dos Santos on maio 31, 2012
at 3:54 am
Sou natural de Vertentes e estudei desde a infância no colégio Gil Rodrigues e nunca vi nenhuma alusão ao seu nome e nem sua rica história e gostei muito do seu artigo . Parabens
By: Jose Edson C. melo on setembro 28, 2014
at 11:56 pm
MinhA avó maria do socorro freitas ja com 86 anos, os pais da minha avó era francisco rodrigues de Freitas e Adriana maria diniz conhecia ele é me disse que ele era primo de meu avô otacilio lobo de araujo já falecido os país do meu avô era aprígio lobo de araujo e filômena bezerra de arruda
By: Eglaucia araujo on setembro 17, 2018
at 3:28 am